sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A PROVIDÊNCIA




27. “O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Espírito seria Deus. (Compreendei bem que aqui há
uma simples questão de analogia e não de identidade.) Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as
articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do corpo. Se bem seja considerável
o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente, a ninguém é lícito supor que se possam produzir movimentos, ou uma
impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do que ocorra. Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente?
O Espírito as sente todas, distingue, analisa, assinala a cada uma a causa determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido
perispirítico.

“Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a Criação. Deus está em toda parte, na natureza, como o Espírito está em toda parte, no corpo.
Todos os elementos da Criação se acham em relação constante com Ele, como todas as células do corpo humano se acham em contato imediato com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam de maneira idêntica, num e noutro caso.

“Um membro se agita: o Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão
a vibrar; o Espírito se ressente de todas as manifestações, as distingue e
localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam,
agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada um o que lhe
diz respeito.

“Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.”
(Quinemant, Sociedade de Paris, 1867.)

28. Compreendemos o efeito: já é muito. Do efeito remontamos à causa e julgamos da sua grandeza pela grandeza do efeito. Escapa-nos, porém, a sua essência íntima, como a da causa de uma imensidade de fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravitação; calculamo-los e, entretanto, ignoramos a natureza íntima do princípio que os produz.18 Será então racional neguemos o princípio divino, porque não o compreendemos?

29. Nada obsta a que se admita, para o princípio da soberana inteligência, um centro de ação, um foco principal a irradiar incessantemente, inundando o universo com seus eflúvios, como o Sol com a sua luz.
Mas onde esse foco? É o que ninguém pode dizer. Provavelmente, não se acha fixado em determinado ponto, como não o está a sua ação, sendo
também provável que percorra constantemente as regiões do espaço sem-fim. Se simples Espíritos têm o dom da ubiquidade, em Deus há de ser sem limites essa faculdade. Enchendo Deus o universo, poder-se-ia ainda admitir, a título de hipótese, que esse foco não precisa transportar-se, por se formar em todas as partes onde a soberana vontade julga conveniente
que ele se produza, donde o poder dizer-se que está em toda parte e em parte nenhuma.

30. Diante desses problemas insondáveis, cumpre que a nossa razão se humilhe. Deus existe: disso não podemos duvidar. É infinitamente justo e bom: essa a sua essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo. Só o nosso bem, portanto, pode Ele querer, donde se segue que devemos confiar nele, isso é essencial. Quanto ao mais, esperemos que nos tenhamos tornado dignos de o compreender.


Fonte: A Gênese
Capítulo: 2
Allan Kardec

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