quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL




9. Se o fato ficar comprovado, dirão, aceitá-lo-emos; aceitaríamos
mesmo a causa a que o atribuís, a de um fluido
desconhecido. Mas, quem nos prova a intervenção dos Espíritos?
Aí é que está o maravilhoso, o sobrenatural.
Far-se-ia mister aqui uma demonstração completa, que,
no entanto, estaria deslocada e, ao demais, constituiria uma
repetição, visto que ressalta de todas as outras partes do
ensino. 

Todavia, resumindo-a nalgumas palavras, diremos
que, em teoria, ela se funda neste princípio: todo efeito inteligente
há de ter uma causa inteligente e, do ponto de
vista prático, na observação de que, tendo os fenômenos
ditos espíritas dado provas de inteligência, fora da matéria
havia de estar a causa que os produzia e de que, não sendo
essa inteligência a dos assistentes — o que a experiência
atesta — havia de lhes ser exterior. Pois que não se via o ser
que atuava, necessariamente era um ser invisível.

Assim foi que, de observação em observação, se chegou
ao reconhecimento de que esse ser invisível, a que deram o nome de Espírito, não é senão a alma dos que viveram
corporalmente, aos quais a morte arrebatou o grosseiro
invólucro visível, deixando-lhes apenas um envoltório
etéreo, invisível no seu estado normal. Eis, pois, o maravilhoso
e o sobrenatural reduzidos à sua mais simples
expressão.

Uma vez comprovada a existência de seres invisíveis, a
ação deles sobre a matéria resulta da natureza do envoltório
rio fluídico que os reveste. É inteligente essa ação, porque,
ao morrerem, eles perderam tão-somente o corpo, conservando
a inteligência que lhes constitui a essência mesma.

Aí está a chave de todos esses fenômenos tidos erradamente
por sobrenaturais. A existência dos Espíritos não é, portanto,
um sistema preconcebido, ou uma hipótese imaginada
para explicar os fatos: é o resultado de observações e
conseqüência natural da existência da alma. Negar essa
causa é negar a alma e seus atributos. Dignem-se de
apresentá-la os que pensem em poder dar desses efeitos
inteligentes uma explicação mais racional e, sobretudo, de
apontar a causa de todos os fatos, e então será possível
discutir-se o mérito de cada uma.

10. Para os que consideram a matéria a única potência da
Natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da
matéria é maravilhoso, ou sobrenatural, e, para eles, maravilhoso
é sinônimo de superstição. Se assim fosse, a religião,
que se baseia na existência de um princípio imaterial,
seria um tecido de superstições. Não ousam dizê-lo em voz
alta, mas dizem-no baixinho e julgam salvar as aparências
concedendo que uma religião é necessária ao povo e às crianças,
para que se tornem ajuizados. Ora, uma de duas, ou o princípio religioso é verdadeiro, ou falso. Se é verdadeiro,
ele o é para toda gente, se falso, não tem maior valor para
os ignorantes do que para os instruídos.


Fonte: O Livro dos Médiuns
Capítulo: 2
Allan Kardec

Nenhum comentário:

Postar um comentário