quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Existem Espíritos ?




4. A existência da alma e a de Deus, conseqüência uma da
outra, constituindo a base de todo o edifício, antes de travarmos
qualquer discussão espírita, importa indaguemos se
o nosso interlocutor admite essa base. Se a estas questões:
Credes em Deus?
Credes que tendes uma alma?
Credes na sobrevivência da alma após a morte?
responder negativamente, ou, mesmo, se disser simplesmente:
Não sei; desejara que assim fosse, mas não tenho a certeza
disso, o que, quase sempre, equivale a uma negação polida, disfarçada sob uma forma menos categórica, para
não chocar bruscamente o a que ele chama preconceitos
respeitáveis, tão inútil seria ir além, como querer demonstrar
as propriedades da luz a um cego que não admitisse a
existência da luz. Porque, em suma, as manifestações espíritas
não são mais do que efeitos das propriedades da alma.
Com semelhante interlocutor, se se não quiser perder tempo,
ter-se-á que seguir muito diversa ordem de idéias.
Admitida que seja a base, não como simples probabilidade,
mas como coisa averiguada, incontestável, dela muito
naturalmente decorrerá a existência dos Espíritos.

5. Resta agora a questão de saber se o Espírito pode comunicar-
se com o homem, isto é, se pode com este trocar
idéias. Por que não? Que é o homem, senão um Espírito
aprisionado num corpo? Por que não há de o Espírito livre
se comunicar com o Espírito cativo, como o homem livre
com o encarcerado?
Desde que admitis a sobrevivência da alma, será
racional que não admitais a sobrevivência dos afetos? Pois
que as almas estão por toda parte, não será natural acreditarmos
que a de um ente que nos amou durante a vida se
acerque de nós, deseje comunicar-se conosco e se sirva para
isso dos meios de que disponha? Enquanto vivo, não atuava
ele sobre a matéria de seu corpo? Não era quem lhe dirigia
os movimentos? Por que razão, depois de morto, entrando
em acordo com outro Espírito ligado a um corpo, estaria
impedido de se utilizar deste corpo vivo, para exprimir o seu
pensamento, do mesmo modo que um mudo pode servir-se de uma pessoa que fale, para se fazer compreendido?

6. Abstraiamos, por instante, dos fatos que, ao nosso ver,
tornam incontestável a realidade dessa comunicação;
admitamo-la apenas como hipótese. Pedimos aos incrédulos
que nos provem, não por simples negativas, visto que
suas opiniões pessoais não podem constituir lei, mas
expendendo razões peremptórias, que tal coisa não pode
dar-se. Colocando-nos no terreno em que eles se colocam,
uma vez que entendem de apreciar os fatos espíritas com o
auxílio das leis da matéria, que tirem desse arsenal qualquer
demonstração matemática, física, química, mecânica,
fisiológica e provem por a mais b, partindo sempre do princípio
da existência e da sobrevivência da alma: 

que o ser pensante, que existe em nós durante a vida,
não mais pensa depois da morte;

que, se continua a pensar, está inibido de pensar naqueles
a quem amou;

que, se pensa nestes, não cogita de se comunicar com
eles;

que, podendo estar em toda parte, não pode estar ao
nosso lado;
5º que, podendo estar ao nosso lado, não pode comunicar-se
conosco;

que não pode, por meio do seu envoltório fluídico, atuar
sobre a matéria inerte;

que, sendo-lhe possível atuar sobre a matéria inerte,
não pode atuar sobre um ser animado;

que, tendo a possibilidade de atuar sobre um ser animado,
não lhe pode dirigir a mão para fazê-lo escrever;

que, podendo fazê-lo escrever, não lhe pode responder
às perguntas, nem lhe transmitir seus pensamentos.
Quando os adversários do Espiritismo nos provarem
que isto é impossível, aduzindo razões tão patentes quais
as com que Galileu demonstrou que o Sol não é que gira em
torno da Terra, então poderemos considerar-lhes fundadas
as dúvidas. Infelizmente, até hoje, toda a argumentação a
que recorrem se resume nestas palavras: Não creio, logo
isto é impossível. Dir-nos-ão, com certeza, que nos cabe a
nós provar a realidade das manifestações. Ora, nós lhes
damos, pelos fatos e pelo raciocínio, a prova de que elas
são reais. Mas, se não admitem nem uma, nem outra coisa,
se chegam mesmo a negar o que vêem, toca-lhes a eles
provar que o nosso raciocínio é falso e que os fatos são
impossíveis.


Fonte: O Livro dos Médiuns
Capítulo: 1
Allan Kardec

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