quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL





7. Se a crença nos Espíritos e nas suas manifestações representasse
uma concepção singular, fosse produto de um
sistema, poderia, com visos de razão, merecer a suspeita
de ilusória. Digam-nos, porém, por que com ela deparamos
tão vivaz entre todos os povos, antigos e modernos, e nos
livros santos de todas as religiões conhecidas? É, respondem
os críticos, porque, desde todos os tempos, o homem
teve o gosto do maravilhoso. — Mas, que entendeis por maravilhoso?
— O que é sobrenatural. — Que entendeis por
sobrenatural? — O que é contrário às leis da Natureza. —
Conheceis, porventura, tão bem essas leis, que possais
marcar limite ao poder de Deus? Pois bem! Provai então
que a existência dos Espíritos e suas manifestações são
contrárias às leis da Natureza; que não é, nem pode ser
uma destas leis. Acompanhai a Doutrina Espírita e vede
se todos os elos, ligados uniformemente à cadeia, não
apresentam todos os caracteres de uma lei admirável,que resolve tudo o que as filosofias até agora não puderam
resolver.
O pensamento é um dos atributos do Espírito; a possibilidade,
que eles têm, de atuar sobre a matéria, de nos
impressionar os sentidos e, por conseguinte, de nos transmitir
seus pensamentos, resulta, se assim nos podemos
exprimir, da constituição fisiológica que lhes é própria. Logo,
nada há de sobrenatural neste fato, nem de maravilhoso.
Tornar um homem a viver depois de morto e bem morto,
reunirem-se seus membros dispersos para lhe formarem
de novo o corpo, sim, seria maravilhoso, sobrenatural, fantástico.
Haveria aí uma verdadeira derrogação da lei, o que
somente por um milagre poderia Deus praticar. Coisa alguma,
porém, de semelhante há na Doutrina Espírita.

8. Entretanto, objetarão, admitis que um Espírito pode suspender
uma mesa e mantê-la no espaço sem ponto de apoio.
Não constitui isto uma derrogação da lei de gravidade? —
Constitui, mas da lei conhecida; porém, já a Natureza disse
a sua última palavra? Antes que se houvesse experimentado
a força ascensional de certos gases, quem diria que uma
máquina pesada, carregando muitos homens, fosse capaz
de triunfar da força de atração? Aos olhos do vulgo, tal
coisa não pareceria maravilhosa, diabólica? Por louco houvera
passado aquele que, há um século, se tivesse proposto
a transmitir um telegrama a 500 léguas de distância e a
receber a resposta, alguns minutos depois. Se o fizesse,
toda gente creria ter ele o diabo às suas ordens, pois que,
àquela época, só ao diabo era possível andar tão depressa.
Por que, então, um fluido desconhecido não poderia, em
dadas circunstâncias, ter a propriedade de contrabalançar o efeito da gravidade, como o hidrogênio contrabalança o
peso do balão? Notemos, de passagem, que não fazemos
uma assimilação, mas apenas uma comparação, e unicamente
para mostrar, por analogia, que o fato não é fisicamente
impossível.
Ora, foi exatamente por quererem, ao observar estas
espécies de fenômenos, proceder por assimilação que os
sábios se transviaram.
Em suma, o fato aí está. Não há, nem haverá negação
que possa fazer não seja ele real, porquanto negar não é
provar. Para nós, não há coisa alguma sobrenatural. É tudo
o que, por agora, podemos dizer.


Fonte: O Livro dos Médiuns
Capítulo: 2
Allan Kardec

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